Instituto Ethos discute como criar uma economia mais responsável a partir da crise financeira.
Oportunidade é a palavra mais repetida no programa da Conferência Internacional do Instituto Ethos, que ocorre neste mês de junho, em São Paulo. O tema principal do evento é a possibilidade de uma transformação econômica, aberta pela atual crise. O presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, aborda aqui alguns dos assuntos que dominam esse debate.
Será possível aliar retomada pós-crise com o uso responsável dos recursos naturais? É mais fácil olhar para a crise como o fim de um ciclo – e a retomada da economia como o início de um novo. Muitas pessoas já estão olhando para uma recuperação do crescimento ancorada em bases diferentes. É só ver a recente valorização dos serviços prestados pela Natureza, o posicionamento da Inglaterra frente às questões do clima, a postura do presidente Barack Obama no que se refere às energias limpas.
Esse movimento indica a possibilidade de um novo modelo econômico? Qual seria? Diria que ele tem três características fortes: a primeira é a busca pela baixa emissão de gases do efeito estufa; a segunda é a dissociação entre desenvolvimento e crescimento; e a terceira é uma mudança profunda de valores. Há uma consciência clara de que o mercado não dá mais conta – ou melhor, nunca deu – das dimensões social e ambiental.
Como investir em mudanças sem financiamento? Os governos terão de subsidiar? As pessoas me fazem essa pergunta como se fosse um obstáculo imenso, mas não é. Por exemplo: uma empresa diagnostica que existe uma demanda no mercado, mapeia essa demanda, faz o estudo de custo–benefício e coloca o processo produtivo em marcha. Essa é a lógica empresarial. Se as empresas veem que caminhamos para uma economia de baixa emissão de carbono, por que não fazer de acordo com esse princípio? Não custa mais. O melhor da inteligência empresarial não se dá quando a empresa se define pelas tendências de mercado, mas quando se antecipa a elas.
Com a crise, indústrias podem desaparecer. Como o Brasil está nessa corrida? Acho que mal. Não podemos mais apostar no petróleo, coisa que o governo ainda faz. Se continuar com essa visão, o país vai perder em cinco anos a vantagem competitiva que poderia ter na discussão de uma economia verde. Vamos ficar restritos às energias de biomassa e do etanol – e perder a corrida das energias solar, eólica e de correntes marítimas. Ainda é tempo. Mas só se nossa próxima gestão for no estilo Obama, algo que radicalize a posição estratégica do Brasil.

Fonte: Revista Época Negócios (Por Aline Ribeiro)