terça-feira, 22 de setembro de 2009

O estresse está globalizado

Segundo um estudo conduzido pela socióloga americana Juliet Schor, os principais executivos americanos trabalham hoje 163 horas mensais a mais em relação a 1969 – o equivalente a quase um mês inteiro de labuta por ano. Na década de 80, conforme a mesma pesquisa, 55% dos líderes admitiam viver uma situação de grande estresse na vida profissional. Os dados atuais demonstram que o nível subiu par 75%. No Brasil, de acordo com Betania, os executivos do topo trabalham, em média, 14 horas a cada dia – número somente comparável ao do Brasil do início do século 20. A industrialização tardia do país fez com que, especialmente entre as décadas de 10 e 30, os trabalhadores brasileiros permanecessem 14 horas por dia confinados nas fábricas. Num certo sentido, os executivos de hoje trabalham ainda mais, considerando e-mails e celulares atendidos fora do expediente oficial. Isso equivale a 70 horas semanais. Para efeito de comparação, a Constituição brasileira de 1988 estabeleceu a jornada de 44 horas semanais – ou seja, os executivos do topo dedicam a suas companhias quase o dobro do tempo previsto pela lei vigente no país.

É inevitável associar o quadro de infelicidade ao ritmo global de trabalho. De acordo com um estudo da Harvard Business School, 70% dos americanos estão insatisfeitos com a intensidade de sua jornada de trabalho. Metade dos entrevistados considera improvável desfrutar uma vida saudável nessas circunstâncias. No japão, o índice de insatisfação aproxima-se de 80%, segundo levantamento da Universidade Metropolitana de Tóquio. Tudo isso explica o surgimento da expressão “extreme jobs” (trabalhos extremos). O termo refere-se às atividades que exigem dedicação 24 horas por dia dos profissionais mais graduados, responsabilidade por perdas e ganhos, prestação de contas a diversas pessoas (acionistas e, muitas vezes, chefes em outros países) e capacidade para enfrentar situações de grande tensão sem jamais denunciar nenhum sinal de fraqueza.

Em seu estudo, Betania expôs o que parece evidente, mas nem sempre é admitido: a falsidade do estereótipo de herói ou homem de aço no mundo corporativo. “Nos últimos anos, observei inúmeras manifestações de sofrimento e explosões espontâneas de tristeza de líderes importantes”, afirma ela. “A versão oficial de que eram irremediavelmente felizes precisava ser desfeita”. Betania testemunhou cenas comoventes. Presidentes em momentos de fragilidade emocional. Alguns choraram (sim, presidentes de empresas também choram). Lamentos eloqüentes contra o tempo perdido com o excesso de trabalho. Pela dedicação que ofereçam às empresas, todos eles são recompensados com status, poder e dinheiro. Mas o tempo passa e, após longos anos de árdua batalha para obter sucesso profissional, eles se perguntam se isso era mesmo o mais importante. “Chega um momento em que todo ser humano depara com uma questão fundamental: se é ou se foi feliz ou não”, disse à Época NEGÓCIOS o historiador inglês Stuart Walton , autor de Uma História das Emoções, publicado recentemente no Brasil pela Editora Record. No livro, Walton examina aquelas emoções que considera primordiais (como medo, raiva, tristeza e felicidade) e as relaciona à vida moderna. Em um mundo afeito a mudanças velozes que obrigam os profissionais a se desdobrar em inúmeras atribuições cotidianas, quem se destaca são justamente aqueles que mais se entregam ao que ele chama d “frenesi mundano”. Trabalham intensamente, têm ambição desmedida, são competitivos ao extremo e gladiadores dispostos a sobreviver num ambiente marcado pela escassez de companheiros e amizade. “De alguma forma, a vida cobrará seu tributo e o preço pago por essas pessoas, muitas vezes, é a infelicidade”, diz Walton.

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